segunda-feira, 5 de maio de 2008

Análise tendenciosa

Como sou corintiana, é claro que eu vou sempre achar (ou pelo menos esperar) que meu time vai ser o melhor e que vai ser o campeão, na casa do adversário, de goleada e de preferência de virada no segundo tempo - pra dar mais emoção.

Mas acontece que eu sou professora e esse blog aqui não tem o menor compromisso com outros times, muito pelo contrário, ele é assumidamente corintiano. Não tenho qualquer compromisso profissional de fazer análises técnicas e apuradas, não sou comentarista. Falo aqui apenas com a voz do coração.

Mas como professora, mesmo que eu me apegasse mais com o aluno Fulano ou Sicrano, e como humana isso é passível de acontecer - assim como pode ocorrer de nutrir antipatia por alguém com quem eu trabalhe, eu não deixaria transparecer em momento algum essa simpatia por esse pupilo em detrimento dos demais.

Como aluno arruma desculpa para tudo, pode até ser que algum reclame que eu pegue em seu pé, e não no de outro Fulano, ao que vou lhe perguntar: "por quê?" e ele vai responder que é porque não fez tarefa, ou porque conversa na classe, etc. Ele mesmo será o primeiro a admitir que se eu estou fazendo marcação cerrada com ele é para que ele ande na linha, pois para mim todos os alunos são importantes, e eu considero que estaria faltando com a ética profissional se agisse de outra forma, levada por simpatias ou antipatias, ao invés de agir com justiça e objetividade.

Imagino que essa mesma justiça e retidão, essa mesma ética, deva ser salvaguardada em qualquer profissão, e por isso mesmo entendo que um profissional que se diz "comentarista esportivo" tem, sim, todo o direito de torcer por um time e é natural que o faça, da mesma forma que um pai ou mãe (ou mesmo professor) pode ter um aluno ou filho mais querido, mas por uma questão ética, jamais um profissional de sua área deveria assumir publicamente seu amor por este ou aquele time, sob pena de perder sua credibilidade junto ao público, pois suas análises podem ser pressupostas como tendenciosas a partir dessa "confissão pública de amor".

Já na semana passada comentei nesse blog a respeito das "análises" dos "entendidos da matéria" a respeito da superioridade do Palmeiras. No caso do jogo contra a Ponte essa análise se confirmou, apesar de eu achar que a forma que a análise foi feita foi no mínimo desrespeitosa para com a Ponte Preta. No jogo contra o Sport os comentários eram sobre a superioridade do Palmeiras e a facilidade com que venceria o adversário - e o que se viu foi um Palmeiras apático tomar de goleada.

Citando uma entrevista com Mauro Beting, que se intitula "comentarista esportivo", no site "Palmeiras todo dia", na qual ele, quando responde à pergunta "como se tornou palmeirense, influência paterna?" diz:

Herança genética. Além de uma questão de criação, de educação e, até (modestamente, como pessoa e como palmeirense) de inteligência. Afinal, quando se define o time de um torcedor, dos seis aos oito anos, não havia como não torcer por Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. Uma rima que era uma seleção. Mas não foi só influência paterna; é herança familiar, é determinismo histórico, é indução geográfica: a família, por parte de mãe, é italiana; por parte de pai, alemã, mas criada em região de italianos: logo, todos palestrinos. Grazie a Dio!


Mas é bom deixar claro: nunca tive dúvida em relação à minha paixão. Nunca me vi torcendo por outro time. Aliás, nunca tive um segundo time, em lugar algum. Se houvesse futebol em Marte, eu seria torcedor do Palestra marciano. Só torceria para que o presidente em Marte fosse outro. Ou, pensando bem, que fosse o mesmo do Palestra terráqueo.

Depois dessa declaração, sinto muito, mas por mais capacitado que ele possa ser, para mim suas análises e comentários sempre soarão tendenciosos. Quando assumiu a profissão de comentarista, deveria ter assumido também a postura de "torcedor secreto", pois por uma questão puramente ética, seu time do coração não deveria ser revelado aos seus ouvintes e leitores nem no leito de morte.

(zailda mendes)

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